O exército israelense apresentou um plano de “evacuação” da população civil das “zonas de combate” na Faixa de Gaza, anunciou, nesta segunda-feira (26) o gabinete do primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu.
Este anúncio ocorre antes de uma aguardada ofensiva israelense em Rafah, cidade superpovoada do sul do território palestino, onde sobrevivem amontoados cerca de 1,4 milhão de civis, segundo a ONU, apresentada por Netanyahu como “o último reduto” do movimento islamista palestino Hamas.
Também é o principal ponto de entrada para a ajuda humanitária a partir do Egito, um auxílio que a população precisa desesperadamente diante da crise humanitária em Gaza.
“O (exército israelense) apresentou ao gabinete de guerra um plano para retirar os civis das áreas de combate na Faixa de Gaza, em conjunto com um plano operacional”, afirmou o gabinete de Netanyahu em comunicado.
O primeiro-ministro declarou no domingo, em entrevista à emissora de TV americana CBS, que “há lugar” para que os civis “vão para o norte de Rafah, para as áreas onde já terminamos os combates”.
Israel prometeu lançar uma ofensiva terrestre em Rafah, apesar das pressões internacionais e das negociações em andamento para se alcançar uma nova trégua na guerra contra o Hamas.
Doha sedia uma nova rodada de negociações para um cessar-fogo, com a presença de autoridades de Egito, Catar, Estados Unidos e Israel, além de representantes do movimento islamista palestino Hamas, informou um canal de televisão egípcio.
No entanto, a possível ofensiva contra Rafah, na fronteira com o Egito, seria apenas “adiada” se um acordo de cessar-fogo for alcançado, declarou Netanyahu à CBS.
“Tem que ser feito porque a vitória total é nosso objetivo e a vitória total está ao nosso alcance, não a meses de distância, mas a semanas, uma vez que iniciemos a operação”, acrescentou.
Na Faixa de Gaza, a situação continua piorando e 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, estão em risco de “fome extrema em massa”, de acordo com a ONU.
Os bombardeios não param e a ajuda humanitária entra a conta-gotas pelo posto de Rafah, onde depende da aprovação de Israel, que impôs um cerco total à Faixa.
Um correspondente da AFP relatou que centenas de pessoas estavam deixando suas casas para se dirigirem a outras áreas do território, governado pelo Hamas desde 2007 e sujeito a intensos bombardeios israelenses desde 7 de outubro.
A guerra começou nesse dia, quando milicianos islamistas assassinaram 1.160 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, e sequestraram cerca de 250, segundo um balanço da AFP baseado em números divulgados pelas autoridades israelenses.
Em resposta ao ataque, Israel iniciou uma ofensiva aérea e terrestre que já deixou 29.692 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.
O ministério anunciou nesta segunda-feira que 92 palestinos morreram nos ataques noturnos.
O exército israelense confirmou no domingo a morte do soldado Oz Daniel, de 19 anos
“Eu vim caminhando (…) Não tenho palavras para descrever o tipo de fome que afeta aquela área (…)”, declarou Samir Abd Rabbo, de 27 anos, que chegou a Nuseirat, no centro de Gaza, com a filha de um ano e meio.
“Não há leite (para a minha filha). Eu tento dar o pão que preparo com forragem [ração], mas ela não consegue digerir (…) Nossa única esperança é a ajuda de Deus”, disse à AFP.
Mesmo assim, ainda é possível evitar a fome extrema em Gaza se Israel permitir que as agências humanitárias enviem para o território “uma ajuda significativa”, afirmou, neste domingo, o comissário-geral da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini.
No campo diplomático, representantes de Egito, Catar, Estados Unidos e Israel, além do Hamas, retomaram neste domingo, em Doha, negociações para um cessar-fogo, seguidas de “reuniões no Cairo”, de acordo com o canal de notícias AlQahera News, próximo aos serviços de inteligência egípcios.
As conversas, segundo o canal, “garantem o acompanhamento do que foi discutido em Paris”, para onde o chefe do Mossad, serviço de inteligência externa de Israel, David Barnea, viajou na sexta-feira.
O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou neste domingo que os representantes de Israel, Estados Unidos, Egito e Catar, reunidos em Paris, “chegaram a um entendimento” sobre “quais deveriam ser os contornos básicos de um acordo sobre reféns para um cessar-fogo temporário”.
“Haverá necessidade de discussões indiretas do Catar e do Egito com o Hamas, pois eles terão que concordar em libertar os reféns”, disse à CNN, insistindo em que “esse trabalho está em andamento”.
O emir do Catar, Tamim bin Hamad al Thani, por sua vez, irá a Paris esta semana para abordar as negociações em curso com o presidente francês, Emmanuel Macron.
De acordo com uma fonte do Hamas, classificado como “terrorista” por Estados Unidos, Israel e União Europeia, o plano inclui uma trégua de seis semanas e uma troca de 200 a 300 prisioneiros palestinos por 35 a 40 reféns.
Após uma troca realizada em novembro, as autoridades israelenses estimam que ainda haja 130 reféns em Gaza, dos quais 31 teriam morrido, incluindo o soldado israelense que teve a morte anunciada no domingo.
Israel, que enfrenta crescentes pressões internas, exige “a libertação de todos os reféns, começando por todas as mulheres, e que esse acordo não signifique o fim da guerra”, afirmou Tzachi Hanegbi, assessor de Segurança Nacional de Netanyahu.
O Hamas, por sua vez, exige um “cessar-fogo total” e a retirada das tropas israelenses de Gaza.
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